quinta-feira, 7 de maio de 2015

Avós na educação dos netos: quais os limites e como mediar com os pais a educação das crianças




A casa dos avós sempre traz à cabeça uma memória afetiva de cheirinho de bolo de fubá, o aconchego no sofá, as brincadeiras no quintal e o abraço gostoso que só os avós sabem dar. Nos dias de hoje, o papel dos avós vão além do agrado aos netos, eles participam ativamente da rotina das crianças e são personagens importantes na educação compartilhada com os pais. Para saber um pouco mais sobre o papel dos avós na educação dos netos, a reportagem do Aposentado em Notícia conversou com a psicóloga Fernanda Augustini Pezzato, Doutora em Psicologia USP/São Paulo e membro do Instituto de Análise do Comportamento – Bauru.


É comum ouvirmos que avós existem para mimar os netos, e não educar. Até que ponto o mimo ajuda ou atrapalha no desenvolvimento dos limites na criança? O mimo é livre ou não?
Não existe uma regra específica. Depende do papel que os avós exercem na vida dos netos. Alguns avós convivem com as crianças apenas em momentos pontuais (fins de semana, festas, etc) – neste caso o mimo é a forma de aproveitar ao máximo o momento para expressar afeto e estreitar laços. Outros avós convivem diariamente com os netos, participando da rotina das crianças. Neste caso, o mimo pode interferir nas estratégias educativas adotadas pelos pais (regras, limites, rotina de alimentação, responsabilidades escolares, etc) – podendo ser prejudicial ao desenvolvimento das crianças. Há ainda os avós que assumem o papel de guardiões (assumem a guarda formalmente ou informalmente). Já nesta situação, os avós precisam adotar a postura de educadores em si (não apenas assumirem uma relação de afeto ou como auxiliares dos pais na educação) – estabelecendo as condutas de expressão de afeto (mimos) ou de estabelecimento de limites necessárias em cada contexto para a formação de um indivíduo pleno em seus direitos e obrigações.

Como os pais devem lidar com as interferências dos avós na educação dos filhos. Como impor limite sem desagradar nenhum dos lados?
Os detentores da guarda são os responsáveis pela educação da criança. Neste sentido, se sob a guarda dos pais, são estes quem determinam as regras a serem seguidas – desde que visando o bem da criança. Os avós devem procurar respeitar as regras familiares, especialmente quando participam em grande frequência da rotina da criança, já que a discordância gera inconsistências e insegurança para os netos – bem como pode resultar em conflitos e desrespeito das crianças e adolescentes aos pais (ex. “não vou arrumar a minha cama porque na casa da vovó eu não faço”; “o vovô me deixa sair na rua sozinho, então não vou mais obedecer”, etc.). Entretanto, caso os avós observem que os pais estão de alguma forma violando direitos das crianças (ex. violência física, psicológica, negligência, entre outros), estes devem alertar aos pais da criança/jovem e em casos de persistência procurar o Conselho Tutelar ou solicitar auxílio ao Ministério Público.

Para as crianças, a figura dos avós é muito importante. Que conduta os pais devem ter com os filhos para equilibrar o limite entre o “tudo pode na casa da vovó” e “em casa, as regras são outras”?
Se o “paraíso da casa do vovô e da vovó” for ocasional, não é difícil para a criança aprender que em cada contexto existem diferentes regras. No caso, os pais podem explicitar essa diferença: “na casa da vovó pode comer no sofá, na escola tem que comer na mesinha e aqui em casa na mesa da cozinha com o papai e com a mamãe”. Assim a criança aprende que cada adulto estabelece regras diferentes e não adianta espernear. No entanto, como mencionado anteriormente, se a criança passa grande parte de sua rotina sob os cuidados dos avós, é necessário o diálogo entre todos para que as regras sejam minimamente consistentes e a criança não se sinta confusa ou os educadores desautorizados.

Como delimitar os espaços onde os avós tem autonomia e onde os pais tem autonomia na educação das crianças?
Apesar de os pais terem a autonomia na educação como responsáveis legais, isso não significa que suas opiniões e decisões sobre os filhos devam ser impostas – ex. “na minha casa é assim e ponto” ou “o filho é meu”. Para educar é necessário refletir sobre o que é o melhor para a criança e tentar compreender as motivações de cada familiar. Muitas vezes os pais e avós veem nas crianças uma grande oportunidade de afeto e se desdobram para agradar sempre. Por mais que os avós já tenham criado seus filhos, há sempre muito a aprender na relação com cada ser humano.

No caso de pais separados, como inserir os avós na rotina das crianças? Qual a orientação para a educação dos filhos?
Independentemente da situação conjugal dos pais, é direito da criança conviver com a família. Os pais devem reservar parte do tempo de convivência com a criança para proporcionar momentos com o restante da família. Cabe também a flexibilidade do outro genitor em permitir e facilitar a convivência com todos os parentes.

Como os antigos valores morais conservados pelos avós podem ser benéficos na educação dos netos, sem interferir nos novos costumes das atuais famílias?

É importante para a formação das crianças o contato com diferentes formas de pensar, desde que elas envolvam respeito às diferenças culturais, religiosas e geracionais. De qualquer forma, ensinar valores como respeito, civilidade, sensibilidade aos sentimentos dos outros, generosidade, etc. são sempre benéficos para a convivência social e para a sociedade de forma geral. Este pode ser um importante papel dos avós, especialmente quando podem ser um modelo daquilo que pretendem ensinar. 

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