A casa dos avós sempre traz à cabeça uma memória afetiva de
cheirinho de bolo de fubá, o aconchego no sofá, as brincadeiras no quintal e o
abraço gostoso que só os avós sabem dar. Nos dias de hoje, o papel dos avós vão
além do agrado aos netos, eles participam ativamente da rotina das crianças e
são personagens importantes na educação compartilhada com os pais. Para saber
um pouco mais sobre o papel dos avós na educação dos netos, a reportagem do
Aposentado em Notícia conversou com a psicóloga Fernanda Augustini Pezzato, Doutora
em Psicologia USP/São Paulo e membro do Instituto de Análise do Comportamento –
Bauru.
É comum ouvirmos que
avós existem para mimar os netos, e não educar. Até que ponto o mimo ajuda ou
atrapalha no desenvolvimento dos limites na criança? O mimo é livre ou não?
Não existe uma regra específica.
Depende do papel que os avós exercem na vida dos netos. Alguns avós convivem
com as crianças apenas em momentos pontuais (fins de semana, festas, etc) –
neste caso o mimo é a forma de aproveitar ao máximo o momento para expressar
afeto e estreitar laços. Outros avós convivem diariamente com os netos,
participando da rotina das crianças. Neste caso, o mimo pode interferir nas
estratégias educativas adotadas pelos pais (regras, limites, rotina de alimentação,
responsabilidades escolares, etc) – podendo ser prejudicial ao desenvolvimento
das crianças. Há ainda os avós que assumem o papel de guardiões (assumem a
guarda formalmente ou informalmente). Já nesta situação, os avós precisam
adotar a postura de educadores em si (não apenas assumirem uma relação de afeto
ou como auxiliares dos pais na educação) – estabelecendo as condutas de
expressão de afeto (mimos) ou de estabelecimento de limites necessárias em cada
contexto para a formação de um indivíduo pleno em seus direitos e obrigações.
Como os pais devem
lidar com as interferências dos avós na educação dos filhos. Como impor limite
sem desagradar nenhum dos lados?
Os detentores da guarda são os
responsáveis pela educação da criança. Neste sentido, se sob a guarda dos pais,
são estes quem determinam as regras a serem seguidas – desde que visando o bem
da criança. Os avós devem procurar respeitar as regras familiares, especialmente
quando participam em grande frequência da rotina da criança, já que a
discordância gera inconsistências e insegurança para os netos – bem como pode
resultar em conflitos e desrespeito das crianças e adolescentes aos pais (ex.
“não vou arrumar a minha cama porque na casa da vovó eu não faço”; “o vovô me
deixa sair na rua sozinho, então não vou mais obedecer”, etc.). Entretanto,
caso os avós observem que os pais estão de alguma forma violando direitos das
crianças (ex. violência física, psicológica, negligência, entre outros), estes devem
alertar aos pais da criança/jovem e em casos de persistência procurar o
Conselho Tutelar ou solicitar auxílio ao Ministério Público.
Para as crianças, a
figura dos avós é muito importante. Que conduta os pais devem ter com os filhos
para equilibrar o limite entre o “tudo pode na casa da vovó” e “em casa, as regras
são outras”?
Se o “paraíso da casa do vovô e
da vovó” for ocasional, não é difícil para a criança aprender que em cada
contexto existem diferentes regras. No caso, os pais podem explicitar essa
diferença: “na casa da vovó pode comer no sofá, na escola tem que comer na
mesinha e aqui em casa na mesa da cozinha com o papai e com a mamãe”. Assim a
criança aprende que cada adulto estabelece regras diferentes e não adianta
espernear. No entanto, como mencionado anteriormente, se a criança passa grande
parte de sua rotina sob os cuidados dos avós, é necessário o diálogo entre
todos para que as regras sejam minimamente consistentes e a criança não se
sinta confusa ou os educadores desautorizados.
Como delimitar os
espaços onde os avós tem autonomia e onde os pais tem autonomia na educação das
crianças?
Apesar de os pais terem a
autonomia na educação como responsáveis legais, isso não significa que suas
opiniões e decisões sobre os filhos devam ser impostas – ex. “na minha casa é assim
e ponto” ou “o filho é meu”. Para educar é necessário refletir sobre o que é o
melhor para a criança e tentar compreender as motivações de cada familiar.
Muitas vezes os pais e avós veem nas crianças uma grande oportunidade de afeto
e se desdobram para agradar sempre. Por mais que os avós já tenham criado seus
filhos, há sempre muito a aprender na relação com cada ser humano.
No caso de pais
separados, como inserir os avós na rotina das crianças? Qual a orientação para
a educação dos filhos?
Independentemente da situação
conjugal dos pais, é direito da criança conviver com a família. Os pais devem
reservar parte do tempo de convivência com a criança para proporcionar momentos
com o restante da família. Cabe também a flexibilidade do outro genitor em
permitir e facilitar a convivência com todos os parentes.
Como os antigos
valores morais conservados pelos avós podem ser benéficos na educação dos
netos, sem interferir nos novos costumes das atuais famílias?
É importante para a formação das
crianças o contato com diferentes formas de pensar, desde que elas envolvam
respeito às diferenças culturais, religiosas e geracionais. De qualquer forma,
ensinar valores como respeito, civilidade, sensibilidade aos sentimentos dos
outros, generosidade, etc. são sempre benéficos para a convivência social e
para a sociedade de forma geral. Este pode ser um importante papel dos avós,
especialmente quando podem ser um modelo daquilo que pretendem ensinar.
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